A-dias
A bem da nossa sanidade mental e da saúde do nosso filhote que agora já gatinha por todo o lado decidimos, depois de feitas e refeitas as contas, contratar uma empregada. Empregada não, mulher-a-dias, corrigiu-me a Neusa ainda à porta de casa. E depois entrou e bisbilhotou por todo o lado, inspeccionou o ferro de engomar, espreitou nas casas-de-banho, olhou de soslaio para os brinquedos espalhados pelo chão da sala, franziu a testa no fogão e concluiu isto está a precisar de uma geral. Eu baixei os olhos como que pedindo desculpa e só não fiquei mais envergonhada porque estava entretida com os meus pensamentos a imaginá-la a entrar por ali adentro sem mim, rodando a sua própria chave na minha fechadura, sentindo-se livre para abrir as minhas gavetas, gozando, talvez, do meu parco guarda-roupa, desdenhando dos restos no meu frigorífico, folheando a minha vida nos álbuns das fotografias - cada um é como cada qual, costuma dizer o meu pai, e eu posso não ter cremes nem perfumes caros para ela usar enquanto limpa o pó mas custa-me imaginar que alguém, esta ou outra Neusa, ande por ali a cuscar nos meus preciosos álbuns de memórias. Não sei até que ponto lhe hão de interessar as fotografias da viagem a Paris no 12º ano ou os bilhetes do espectáculo da disney no gelo que vimos no ano passado, mas espero bem que entre um e outro ela arranje tempo para passar os lençóis.
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