Sunday, March 15, 2009

Happy together

Depois de acabarmos o curso, de arranjarmos um emprego, de continuarmos com o namorado do tempo da faculdade ou de acabarmos tudo após anos de namoro percebendo que o amor da nossa vida afinal era outro, depois disto tudo, casámo-nos. Casámo-nos todos. Foi como uma epidemia. Entre 2000 e 2002, mais coisa menos coisa, repetimos o sim em quintas diferentes, ora com padres ora com despachadas conservadoras do registo civil, mas sempre com os mesmos rostos amigos à nossa volta, as mesmas poses, os mesmos vestidos, os mesmos sorrisos, o mesmo bacalhau espiritual, a mesma lampreia de ovos, as mesmas bebedeiras, aquela mesma sensação de que a vida só então estava a começar, uma ingenuidade que nos atacou a todos, a uns mais do que a outros é verdade, mas que nos atacou a todos - ali estávamos nós a achar que agora é que é, que a vida ia ser sempre assim, sempre em festas, sempre jovens, sem zangas nem rotinas, sempre apaixonados, com muito sexo, com os electrodomésticos acabados de estrear, com os lençóis do enxoval e a conta bancária composta pelos cheques-prenda dos tios e primos. Casámo-nos por amor. Porque acreditávamos mesmo que ia ser para sempre, na saúde e na doença, até que a morte nos separe.
Até que a morte.
Meia dúzia de anos volvidos, o surpreendente é ver como alguns de nós ainda estão juntos. Não necessariamente felizes mas juntos. Quase todos já passaram por traições, desilusões, tristezas, discussões, separações. Quase todos tiveram filhos e ficaram cansados, desesperados, rotinados, stressados. Quase todos já tiraram a aliança. E os que o não fizeram ponderaram a hipótese, em algum momento, mesmo que o não confessem, terão pensado se não seria melhor se.
E no entanto.
No sábado, ao ouvi-los dizer que sim, que era de sua livre vontade, pus-me a pensar nestas coisas e em como, apesar de tudo, apesar de nos queixarmos dos putos e dos pés, apesar das olheiras e dos trambolhões que fomos dando, continuamos (embora de maneiras diferentes) a acreditar no amor. Isso é realmente maravilhoso, não é?

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15 Comments:

Blogger IPQ said...

é sim, é muito maravilhoso. Um beijo muito grande

12:44 PM  
Blogger I said...

Adorei o texto ( como sempre), mas eu só acredito no amor no casamento não.
Infelizmente não !

Beijos

I

2:20 PM  
Anonymous Anonymous said...

Se deixarmos de acreditar no amor, a que é que nos vamos agarrar? Este texto deixou-me com "pele de galinha". Obrigado

4:15 PM  
Anonymous Anonymous said...

Passei pelo mesmo e tb em 2000-2002, que engraçado! Tb fomos a casamentos de amigos.... quase tudo igual!
Será uma coisa geracional? :)

10:15 PM  
Blogger Sofia said...

Temos mesmo de acreditar no amor.. :)

1:03 AM  
Blogger Noc@s said...

Adorei este texto (como todos, aliás), mas este é tal qual, tal qual a realidade, mas escrito de uma forma maravilhosa! Gostei, viva o Amor! :-)
Jocas grandes ;-)

3:57 PM  
Blogger Mamã said...

Como sempre dá gosto ler. Um texto muito realista e tão bem escrito.

10:33 PM  
Blogger inesn said...

maravilhoso, sim :)

11:59 AM  
Blogger Nanita said...

So, so true!

4:36 PM  
Blogger T said...

Fabuloso

2:55 PM  
Blogger JS said...

É sim senhora!

10:14 PM  
Blogger Mad said...

Grande grande grande texto! E é muito bom acreditar no amor. :)))

9:28 PM  
Blogger Canto Definido (Structurally Diffuse) said...

Gostei muito de passar por estes lados, muito :)

11:02 AM  
Anonymous Fairy Floss said...

Eu também acredito no amor. O amor, seja pelo que for, é o que move o mundo.
Chato é que na próxima oficialização do "amor" a que vou no dia 2 de Maio, fui praticamente obrigada a ir ler na cerimónia. Sacrifícios... por amor ;)

11:02 PM  
Anonymous costela de adão said...

Gostei de passar por aqui. Bom texto, bem escrito e real. E sim, é muito bonito continuar a acreditar no amor.

11:20 PM  

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