Pronto-a-vestir
Há um ano e meio que não entrava numa loja para comprar roupa para mim. Leram bem: um ano e meio. A última vez tinha sido quando engravidei e, com a barriga a crescer, pareceu-me que precisava de umas calças. De então para cá, a gravidez e depois o parto, os quilos e a recuperação, no Verão qualquer trapinho serve e no Inverno, com aniversário e natal, os meus mais próximos, sabendo deste meu feitio, oferecem-me sempre blusas e casacos que me sabem que nem ginjas. Recuperei a roupa de há dois anos, que na verdade já tem quatro, cinco ou mais anos, e vesti-a sentindo uma alegria profunda por ela ainda me servir. Que bom, quer dizer que não engordei assim tanto. Que bom, quer dizer que não tenho que ir à loja. É que eu, ao contrário das outras mulheres, não vim equipada com o chip das compras. Não me divirto a ver montras, angustiam-me os centros comerciais, não tenho a mais pequena paciência para procurar roupa, acho sempre tudo horroroso e demasiado caro, nunca encontro nada do que quero e detesto, detesto mesmo, ter de experimentar. Despir, vestir, despir, vestir. Ali, naquele cubículo, naquele metro quadrado de sofrimento, não tenho escapatória e sou forçada a confrontar-me com o meu corpo rechonchudo que não se adequa, por mais que eu puxe, por mais que estique, não se adequa aos modelitos da estação. A culpa é do espelho, a culpa é das luzes, a culpa é dos designers que fazem roupa que não se consegue vestir, roupa que só fica bem aos bonecos de madeira que eles têm nas lojas com as camisas presas por alfinetes. Mera ilusão. A mim quando as calças me servem no rabo ficam largas na cintura, quando as blusas me cabem nos braços ficam a baloiçar nas mamas. Mas que raio, não hei de comprar XL porque não quero, recuso-me sequer a experimentar algo como um 44. Mudo de loja, mudo de marca, posso até nem comprar a roupa da moda mas hei de encontrar qualquer coisa que não me faça parecer um saco de batatas. Ou então, não. Ou então, como quase sempre, desisto. Não compro. (...) Há um ano e meio que não entrava numa loja para comprar roupa para mim mas hoje lá fui. Teve que ser. Depois de duas horas de sacrifício voltei para casa com uma dor de cabeça e um saquinho com a roupa para a festa. O que a gente não faz pelos amigos que se amam e decidem casar.
Labels: coisas de gaja
13 Comments:
Alguém como eu! :)
Afinal não sou uma ave rara entre as mulheres!LOL!
Detesto compras de roupa, acessórios e afins, as tais coisas de gaja (as de supermercado são mais tranquilas). Quase me atrevo a dizer que começo a ganhar fobia às mesmas! :P
E somos três sem chip. E eu nem a desculpa da gravidez tenho. Se pudesse andar o resto da vida de jeans e chinelos (nem precisavam de ser havaianas, servem umas quaisquer), seria feliz. Até me chegava um paninho à moçambicana, vê lá.
:)
E vão quatro, comigo.
Afinal há mais mulheres que odeiam comprar roupa, vês?
E eu a pensar que essa falta de apetência para as compras era um exclusivo masculino!
Também nao tenho esse chip. E ainda bem!
beijinho e sorte aos noivos
Eu até gosto de comprar. Para os miúdos, sobretudo. Com ela delicio-me agora. Mas tenho os mesmos problemas que tu, com as calças. E com as blusas. Com o tempo transformei-me numa cliente la-redoute. Depois é um desatino porque passo a vida a devolver e mandar vir. Mas ao menos experimento em casa, com espaço. E com o meu espelho...
Gosto deste blog, da sinceridade :)
Afinal, já somos 6! Não gosto de ir às compras e surpreendem-me sempre as afirmações de que "todas as mulheres gostam de sapatos (e tem dezenas) e de malas". Eu ando sempre com a mesma mala (uma no Verão, outra para o Inverno) e tenho 2 pares de sapatos por estação (uns pretos e outros castanhos). Não gosto sequer de comprar roupa aos miúdos. O que vale é que têm uma avó que dirige a sua voragem consumista para os netos (o que eu agradeço). Gosto imenso do seu blog e da sua sinceridade. Revejo-me inúmeras vezes nas suas palavras e vivências (a vida na província, os estudos em Lisboa, o início da vida adulta entre teatros e cinemas, a avó tão importante, mas de certo modo desvalorizada, o impacto do livro "A instrução dos Amantes", da Inês Pedrosa, lido no final da adolescência, and so on...). Parabéns e obrigada.
7?
;DDD
Eu gosto de fazer compras.
Mas há alturas em que nada me serve (apesar de eu nao ser gorda), em que tudo me faz sentir um texugo ambulante... detesto!
Ehehehe e vão 8! :D
Este post podia ter sido (embora não tão bem) escrito por mim.
Sinto-me menos só.
E mais uma...isto é, eu até gosto de comprar roupa quando vejo alguma coisa que goste - que não é fácil -, o problema é mesmo quando se tem que comprar para alguma ocasião especial e se correm as lojas todas à procura e não aparece nada daquilo que nós idealizámos!
Mas tenho os meus truques...tive a sorte de encontrar há uns anos umas calças pretas - em saldos da Gerard Darel- que pareciam ter sido cortadas para mim e, desde então, servem para quase todas as festas, vou variando a parte de cima consoante seja Inverno ou Verão; quando gosto de alguma coisa - normalmente calças - compro uns quantos pares de diferentes cores; não sendo muito apegada a modas, a roupa dura-me anos e o que faço é actualizá-la com uma peça ou outra que, felizmente na maior parte dos casos, aparece em saldos como se estivesse à minha espera.
De facto, deve ser um problema para quem tenha "realmente" uns quilos - ainda que poucos - a mais, porque eu tenho 1,72m x 56Kg sem excessos a esconder e, em certas lojas, os tamanhos disponíveis são tão minúsculos que eu chego a desconfiar que devo ter uma espécie de "anorexia ao contrário" - vejo-me magra e afinal sou mas é obesa!
O meu problema mesmo são os sapatos...quando me habituo a uns gostava de poder comprar outros iguais quando se estragam; tenho sapatos e botas com mais de dez anos, vou-lhes tentando encontrar substitutos mas o raio é que não os substituem de todo e eu não consigo separarme definitivamente deles...help, precisam-se sapatos à la carte!
Eva
E mais uma a juntar-se ao grupo!! Por que será que nos achamos sempre as únicas com este "problema" (a conta bancária, agradece)?
E eu, não é por ser rechonchuda, antes pelo contrário: falta-me anca, sobram-me mamas, enfim, ir às compras, agonia-me.
Fico contente por ter com quem partilhar esta "dificuldade".
Já pensei milhares de vezes em pagar a alguém (aquela nova figura que inventaram do assessor de moda)
para me dizer o que comprar, o que fica bem e o que tenho que evitar a todo o custo. Mas acho uma vergonha que alguém descubra que uma mulher com quase 51 (é amanhã!!) ainda não confia o suficiente em si própria para saber o que fazer.
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