Tuesday, March 05, 2013
Monday, March 04, 2013
Queridos, mudei a casa
Pois que estamos em mudanças. Ainda não está exatamente como eu quero (mas é sempre assim quando se muda de casa, não é?, fica sempre um caixote esquecido num canto, uma candeeiro por pendurar, um quadro que ainda não está no sítio...) e não é certo que o template fique mesmo este mas ao menos já não tenho os vídeos todos desenquadrados e já consegui pôr lá em baixo aquela coisa para ir para trás e para a frente e já tenho o arquivo organizado por anos, enfim, como diria a minha Neusa, isto estava mesmo a precisar de uma geral. Sem grandes alaridos, mas façam por favor saber àqueles que costumam andar por aqui que agora estamos na porta ao lado:
http://agatachristie.blogs.sapo.pt/
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Labels: blog
Friday, March 01, 2013
Manifestante não praticante
A12 de março do ano passado, a geração à rasca manifestou-se na avenida da liberdade mas eu tive um daqueles compromissos familiares a que não podia faltar. Passei ao lado da multidão que cantava e dançava na rua e disse da próxima vez cá estarei. A 15 de setembro estava a trabalhar e a ver aquela gente toda junta a dizer que se lixe a troika, no facebook quase todos os meus amigos partilhavam imagens fantásticas da praça de espanha e eu que via tudo na televisão prometi que da próxima é que era. A próxima será amanhã, 2 de março, e eu hei de estar lá pelos lados do marquês de pombal mas com o nariz enfiado no computador. Já é azar, caramba. Ainda assim eu manifesto-me, baixinho para não incomodar os colegas mas estarei a torcer por vocês, vou pôr o grândola nos headphones e acompanhar tudo a par e passo. Gritem bem alto por mim, tá?
Labels: política
Wednesday, February 27, 2013
Tuesday, February 26, 2013
Monday, February 25, 2013
Gosto/ Não gosto
Gosto de palavras. De as ler. E de as escrever.
Gosto de ir ao cinema sozinha.
Gosto do chico, do caetano e dessa turma toda.
Gosto de dançar.
Gosto de ver dançar.
Gosto de me emocionar no teatro, e é tão raro.
Gosto de margaritas, caipirinhas e mojitos. E sangria.
Gosto de festas.
Gosto de comer. Gosto de feijoada, de todas as maneiras de feijoada. Gosto de chocolate, de todas as maneiras de chocolate.
Gosto de conversar.
Gosto do natal.
Gosto de estudar. A sério, não é piada. Gosto de aprender. Gosto de ir às aulas (algumas). Gosto de bibliotecas.
Gosto de passear.
Gosto do meu alentejo. Das cores, da planície, dos cheiros, do silêncio, das memórias. Da sensação de estar em casa.
Gosto do sol no inverno.
Gosto de praias desertas.
Gosto de esplanadas.
Gosto de ficar sentada só a ver o que se passa.
Gosto de sonhar.
Gosto de rir.
Gosto de gostar.
Gosto de abraços.
Gosto muito dos abraços dos meus filhos.
Gosto de os fazer felizes. De os ver felizes. De os imaginar felizes.
Gostei muito de estar grávida.
Gosto das minhas gajas e de mais umas quantas pessoas amigas.
Gosto de ser a mana mais nova.
Gosto quando corre tudo bem.
Não gosto de mentiras.
Não gosto de carne mal passada.
Não gosto de falar ao telefone.
Não gosto de pessoas demasiado vaidosas. Não gosto de pessoas arrogantes.
Não gosto de lidar com incompetentes.
Não gosto de atrasos.
Não gosto de comprar roupa. Não gosto de seguir a moda. Não gosto das modas.
Não gosto de brincos nem de pulseiras.
Não gosto de ter de pensar em dinheiro.
Não gosto de os ver tristes.
Não gosto de não gostar, mas acontece-me cada vez mais, deve ser da idade.
Não gosto que me mintam (porque nunca é demais dizê-lo).
Gosto e não gosto de mais coisas mas acho que estas bastam para fazer a Lina feliz.
Gosto de ir ao cinema sozinha.
Gosto do chico, do caetano e dessa turma toda.
Gosto de dançar.
Gosto de ver dançar.
Gosto de me emocionar no teatro, e é tão raro.
Gosto de margaritas, caipirinhas e mojitos. E sangria.
Gosto de festas.
Gosto de comer. Gosto de feijoada, de todas as maneiras de feijoada. Gosto de chocolate, de todas as maneiras de chocolate.
Gosto de conversar.
Gosto do natal.
Gosto de estudar. A sério, não é piada. Gosto de aprender. Gosto de ir às aulas (algumas). Gosto de bibliotecas.
Gosto de passear.
Gosto do meu alentejo. Das cores, da planície, dos cheiros, do silêncio, das memórias. Da sensação de estar em casa.
Gosto do sol no inverno.
Gosto de praias desertas.
Gosto de esplanadas.
Gosto de ficar sentada só a ver o que se passa.
Gosto de sonhar.
Gosto de rir.
Gosto de gostar.
Gosto de abraços.
Gosto muito dos abraços dos meus filhos.
Gosto de os fazer felizes. De os ver felizes. De os imaginar felizes.
Gostei muito de estar grávida.
Gosto das minhas gajas e de mais umas quantas pessoas amigas.
Gosto de ser a mana mais nova.
Gosto quando corre tudo bem.
Não gosto de mentiras.
Não gosto de carne mal passada.
Não gosto de falar ao telefone.
Não gosto de pessoas demasiado vaidosas. Não gosto de pessoas arrogantes.
Não gosto de lidar com incompetentes.
Não gosto de atrasos.
Não gosto de comprar roupa. Não gosto de seguir a moda. Não gosto das modas.
Não gosto de brincos nem de pulseiras.
Não gosto de ter de pensar em dinheiro.
Não gosto de os ver tristes.
Não gosto de não gostar, mas acontece-me cada vez mais, deve ser da idade.
Não gosto que me mintam (porque nunca é demais dizê-lo).
Gosto e não gosto de mais coisas mas acho que estas bastam para fazer a Lina feliz.
Labels: vidinha
Não conseguir parar de ler
'Dentro do Segredo', de José Luís Peixoto. Algures entre o fascínio e a incredibilidade.
Labels: Livros
Wednesday, February 20, 2013
Friday, February 15, 2013
Nas esplanadas americanas também há crianças
Motherlode é uma página do New York Times que reúne uma série de gente muito diferente mas a escrever bem e a pensar sobre esta coisa de ter filhos e famílias e vê-los crescer e educá-los e etc. Nem sempre concordo com o que leio mas vale sempre a pena a viagem. Por exemplo, para ficar a saber, que engraçado, que aquela conversa das crianças que incomodam os outros nas esplanadas não é um exclusivo nacional.
Labels: Filhos
Thursday, February 14, 2013
Temos de aprender a viver com os nossos erros
É. Pode não ser fácil mas lá conseguimos. O mais complicado mesmo é aprender a viver com os erros dos outros.
Labels: vidinha
Wednesday, February 13, 2013
O Rio é uma festa
A exposição chama-se 'O Rio é uma festa' e reúne (não sei quantas mas são muitas) fotografias de José Medeiros (1921-1990), fotógrafo brasileiro. As imagens dos anos de 1940 a 1960 e tal são todas a preto e branco e todas belas e é um prazer passear por entre elas e reconhecer, mesmo sem nunca ter estado no Rio de Janeiro, como é o meu caso, todas aquelas referências - Copacabana, o Pão de Açúcar, as garotas de fato de banho, Getúlio Vargas, o carnaval, os bondinhos, os ternos brancos, os malandros dos morros, o futebol, os botecos, os bailes, os negros, as boites, vinicius, niemeyer e tom. Ainda por cima, não se paga para ver, e dá para almoçar mesmo ali.
No Bes Arte & Finança, junto ao Marquês de Pombal, até 4 de abril.
No Bes Arte & Finança, junto ao Marquês de Pombal, até 4 de abril.
Monday, February 11, 2013
Eu não disse?
Parece que ficou toda a gente surpreendida com a chuva e o frio e o vento que obrigaram ao cancelamento dos desfiles, imagine-se, uma coisa assim de que ninguém estava à espera, logo nesta altura, em que costuma estar sempre tão quentinho e tão bom para ir para a praia. Enfim. Ferreira Fernandes, que é um homem inteligente, também já percebeu que em fevereiro, nu, nas ruas, não dá. Agora só falta convencer o resto do país.
Labels: jornalismo, vidinha
Wednesday, February 06, 2013
Ao cuidado dos senhores que organizam os carnavais neste país
De acordo com o instituto de meteorologia, no domingo as temperaturas vão oscilar entre os 3º e os 13º em Lisboa e entre os 6º e os 15º em Faro. No norte, além do frio, há fortes possibilidades de chuva. Na terça-feira, dia de carnaval, as máximas previstas são de 11º em Lisboa e 13º em Faro.
Mais se informa que esta é uma situação meteorológica absolutamente normal, pois estamos em Portugal e é inverno.
Nestas condições, talvez não seja lá muito boa ideia pôr pessoas a desfilar na rua de biquini. (já para não falar de as pôr a fingir que sabem sambar e de tudo o resto também ser bastante deprimente)
Mais se informa que esta é uma situação meteorológica absolutamente normal, pois estamos em Portugal e é inverno.
Nestas condições, talvez não seja lá muito boa ideia pôr pessoas a desfilar na rua de biquini. (já para não falar de as pôr a fingir que sabem sambar e de tudo o resto também ser bastante deprimente)
Labels: vidinha
Sunday, February 03, 2013
Tuesday, January 29, 2013
Friday, January 25, 2013
Indignação
"Olaf (sobre o que em tempos foram joelhos)
repete sem cessar
há merdas que não irei comer"
e.e. cummings, 'i sing of Olaf glad and big'
Encontrei esta citação logo na abertura de 'Inquietação', de Philip Roth, que comecei a ler enquanto esperava pelo metro, e pareceu-me adequada ao dia de hoje (e ao de ontem e ao de amanhã).
repete sem cessar
há merdas que não irei comer"
e.e. cummings, 'i sing of Olaf glad and big'
Encontrei esta citação logo na abertura de 'Inquietação', de Philip Roth, que comecei a ler enquanto esperava pelo metro, e pareceu-me adequada ao dia de hoje (e ao de ontem e ao de amanhã).
Labels: Livros
Estas não incomodavam ninguém na esplanada (II)
(...) Mikaela Linea Abecassis nasce a 6 de abril de 1962, em Nova Iorque. (...) Já em Portugal, o segundo filho, Ricardo, nasce em setembro de 1964 (...), a terceira filha, Rebecca, é planeada por Snu para nascer em outubro de 1971. (...)
Nos primeiros tempos em Lisboa a bebé Mikaela é apaparicada pela tia Helena Abecassis, irmã do pai, que saltita entre a casa de Snu, no 6º piso da D. João V, e o 7º piso, o andar da avó Lucienne. (...)
"A Snu não sabe ser uma mãe carinhosa, falta-lhe mimo para os filhos", testemunha Helena (...) As prioridades (...) estão em tudo o resto, em todos os outros cuidados, em não faltar nada em casa ou na escola. Mas falta o afecto. "Isso é olhado como uma mariquice, os abraços, os beijinhos, é tudo muito rápido. Há coisas mais importantes a fazer."
(...) As vidas preenchidas de Snu e Vasco roubam-lhes o tempo para estar, para brincar com os filhos pequenos (...). Os miúdos Mikaela e Ricardo são colocados na escola inglesa de Carcavelos, o St. Julian's, onde mais tarde andará também, por pouco tempo, a mais nova Rebecca. Em casa têm o apoio das empregadas.
Aos domingos, muito cedo, Ricardo acorda estremunhado, sabe que vai ter a mãe só para ele, a manhã inteira. Por volta das 6 da manhã saem de casa em direção a Cascais. (...) "Montamos juntos a cavalo, andamos pela praia, subimos por aquelas dunas." (...) A delícia dos momentos preciosos, juntos na praia, termina ao fim da manhã. "A missão da minha mãe está cumprida." O resto do domingo de Ricardo prossegue "no meu quarto a brincar", entre as quatro paredes (...). O pai também não tem tempo, para além das frequentes viagens de negócios, está sempre no escritório com a porta fechada. "Bato à porta, mas não posso entrar, o pai está a trabalhar."
Ricardo adora a mãe, mas vê nela uma pessoa "extremamente ocupada, com a profissão dela e com uma vida social intensa". Aos olhos dos miúdos, a entrada e saída de convidados são momentos empolgantes em que, do alto da escadaria de madeira [vêem chegar os convidados] (...). Mas "nós não participamos dos jantares dos adultos". Os miúdos ficam pela zona de serviço do duplex, que conhecem bem: o longo corredor em mármore que abre para uma cozinha grande na mesma pedra e a espaçosa mesa no centro onde as crianças tomam as refeições com as empregadas. (...) Depois de jantarem, Ricardo e as irmãs seguem para os quartos.
(...) Depois dos primeiros anos no St. Julian's, Mikaela acaba por ser enviada para uma escola interna de raparigas em Inglaterra. (...) Não se adapta e ao fim de três meses foge. Ricardo acompanha a mãe a Inglaterra para trazerem Mikaela de volta, destroçada, e testemunha uma "enorme tristeza na minha irmã". Snu tem planos para formar a personalidade da filha mais velha, quer contrariar-lhe o espírito rebelde, forçá-la a aceitar regras, o que alimenta uma péssima relação entre ambas. Apesar do mau resultado, Mikaela volta a Inglaterra. O casal decide enviar os dois filhos para uma escola que conhecem bem, Michael Hall.
"Não se discute se é opção para os miúdos, é-lhes imposto, eles são mandados tal como eu já tinha sido e a Snu também." Vasco partilha as responsabilidades pelo envio dos filhos para Inglaterra, o que se torna mais cómodo para a vida do casal em Lisboa (...). Aos onze anos Ricardo segue para Michael Hall. (...) Mikaela volta a adaptar-se mal (...). As férias suspendem a atribulada vida escolar de Mikaela, que passa por três colégios internos sem nunca se adaptar, com viagens entre Lisboa e Londres. (...) Ao mesmo tempo, Vasco e Snu preparam a sua própria separaração. (...)
Os desencontros acentuam-se ao limite no dia em que Snu expulsa a filha de casa, a meio de 1976. Vasco está a viver temporariamente no Chiado quando recebe um telefonema de Snu: "Daqui a dez minutos a Mikaela está a aí e a partir de agora tu tomas conta dela." (...) Aos 14 anos, Mikaela faz a viagem da D. João V para o Chiado, com toda a carga de uma separação forçada com a mãe que deixa marcas para sempre. (...)
Em Inglaterra, Ricardo começa a ser cada vez mais atraído pela agitação de Londres (...). As aulas no colégio interno ressentem-se, ele está sozinho, só vê os pais nas férias, mas no telefonema semanal Snu começa a aperceber-se da situação e toma uma decisão drástica. Faz seguir Ricardo, aos 14 anos, para as montanhas da Suíça, para Aiglon College, uma escola inglesa bastante mais rigorosa em termos de disciplina. (...)
Rebecca cresce alheia aos colégios internos em Inglaterra e às atribuladas adolescências dos irmãos mais velhos, uma vez que a diferença de idades é significativa. Nos primeiros tempos de escola ainda frequenta o St. Julian's, mas Snu alimenta dúvidas sobre o rigor dessa escola e, por influência da sogra francesa, Lucienne, Rebecca entra para o Liceu Francês (...). "Todos os dias o pai leva-me muito cedo para a escola e quando terminam as aulas uma empregada vai-me buscar." Às cinco e meia a mãe chega para o chá. Rebecca tem direito a uma ou duas bolachas de chocolate, e é o momento em que conta o que aprendeu na escola, se tem ou não trabalhos escolares para fazer. (...) A relação é mais pacífica, com uma mãe "muito calma, conservadora, muito séria, mas também sou assim, o feitio dela entende-se com o meu." (...) "Eu tenho direito ao beijinho da manhã, antes de sair para a escola, e ao beijinho à noite, quando me vou deitar, um ritual quase sempre cumprido, o que para mim é perfeito." (...)
in 'Snu e a vida privada com Sá Carneiro', de Cândida Pinto (Dom Quixote, 2011)
Nos primeiros tempos em Lisboa a bebé Mikaela é apaparicada pela tia Helena Abecassis, irmã do pai, que saltita entre a casa de Snu, no 6º piso da D. João V, e o 7º piso, o andar da avó Lucienne. (...)
"A Snu não sabe ser uma mãe carinhosa, falta-lhe mimo para os filhos", testemunha Helena (...) As prioridades (...) estão em tudo o resto, em todos os outros cuidados, em não faltar nada em casa ou na escola. Mas falta o afecto. "Isso é olhado como uma mariquice, os abraços, os beijinhos, é tudo muito rápido. Há coisas mais importantes a fazer."
(...) As vidas preenchidas de Snu e Vasco roubam-lhes o tempo para estar, para brincar com os filhos pequenos (...). Os miúdos Mikaela e Ricardo são colocados na escola inglesa de Carcavelos, o St. Julian's, onde mais tarde andará também, por pouco tempo, a mais nova Rebecca. Em casa têm o apoio das empregadas.
Aos domingos, muito cedo, Ricardo acorda estremunhado, sabe que vai ter a mãe só para ele, a manhã inteira. Por volta das 6 da manhã saem de casa em direção a Cascais. (...) "Montamos juntos a cavalo, andamos pela praia, subimos por aquelas dunas." (...) A delícia dos momentos preciosos, juntos na praia, termina ao fim da manhã. "A missão da minha mãe está cumprida." O resto do domingo de Ricardo prossegue "no meu quarto a brincar", entre as quatro paredes (...). O pai também não tem tempo, para além das frequentes viagens de negócios, está sempre no escritório com a porta fechada. "Bato à porta, mas não posso entrar, o pai está a trabalhar."
Ricardo adora a mãe, mas vê nela uma pessoa "extremamente ocupada, com a profissão dela e com uma vida social intensa". Aos olhos dos miúdos, a entrada e saída de convidados são momentos empolgantes em que, do alto da escadaria de madeira [vêem chegar os convidados] (...). Mas "nós não participamos dos jantares dos adultos". Os miúdos ficam pela zona de serviço do duplex, que conhecem bem: o longo corredor em mármore que abre para uma cozinha grande na mesma pedra e a espaçosa mesa no centro onde as crianças tomam as refeições com as empregadas. (...) Depois de jantarem, Ricardo e as irmãs seguem para os quartos.
(...) Depois dos primeiros anos no St. Julian's, Mikaela acaba por ser enviada para uma escola interna de raparigas em Inglaterra. (...) Não se adapta e ao fim de três meses foge. Ricardo acompanha a mãe a Inglaterra para trazerem Mikaela de volta, destroçada, e testemunha uma "enorme tristeza na minha irmã". Snu tem planos para formar a personalidade da filha mais velha, quer contrariar-lhe o espírito rebelde, forçá-la a aceitar regras, o que alimenta uma péssima relação entre ambas. Apesar do mau resultado, Mikaela volta a Inglaterra. O casal decide enviar os dois filhos para uma escola que conhecem bem, Michael Hall.
"Não se discute se é opção para os miúdos, é-lhes imposto, eles são mandados tal como eu já tinha sido e a Snu também." Vasco partilha as responsabilidades pelo envio dos filhos para Inglaterra, o que se torna mais cómodo para a vida do casal em Lisboa (...). Aos onze anos Ricardo segue para Michael Hall. (...) Mikaela volta a adaptar-se mal (...). As férias suspendem a atribulada vida escolar de Mikaela, que passa por três colégios internos sem nunca se adaptar, com viagens entre Lisboa e Londres. (...) Ao mesmo tempo, Vasco e Snu preparam a sua própria separaração. (...)
Os desencontros acentuam-se ao limite no dia em que Snu expulsa a filha de casa, a meio de 1976. Vasco está a viver temporariamente no Chiado quando recebe um telefonema de Snu: "Daqui a dez minutos a Mikaela está a aí e a partir de agora tu tomas conta dela." (...) Aos 14 anos, Mikaela faz a viagem da D. João V para o Chiado, com toda a carga de uma separação forçada com a mãe que deixa marcas para sempre. (...)
Em Inglaterra, Ricardo começa a ser cada vez mais atraído pela agitação de Londres (...). As aulas no colégio interno ressentem-se, ele está sozinho, só vê os pais nas férias, mas no telefonema semanal Snu começa a aperceber-se da situação e toma uma decisão drástica. Faz seguir Ricardo, aos 14 anos, para as montanhas da Suíça, para Aiglon College, uma escola inglesa bastante mais rigorosa em termos de disciplina. (...)
Rebecca cresce alheia aos colégios internos em Inglaterra e às atribuladas adolescências dos irmãos mais velhos, uma vez que a diferença de idades é significativa. Nos primeiros tempos de escola ainda frequenta o St. Julian's, mas Snu alimenta dúvidas sobre o rigor dessa escola e, por influência da sogra francesa, Lucienne, Rebecca entra para o Liceu Francês (...). "Todos os dias o pai leva-me muito cedo para a escola e quando terminam as aulas uma empregada vai-me buscar." Às cinco e meia a mãe chega para o chá. Rebecca tem direito a uma ou duas bolachas de chocolate, e é o momento em que conta o que aprendeu na escola, se tem ou não trabalhos escolares para fazer. (...) A relação é mais pacífica, com uma mãe "muito calma, conservadora, muito séria, mas também sou assim, o feitio dela entende-se com o meu." (...) "Eu tenho direito ao beijinho da manhã, antes de sair para a escola, e ao beijinho à noite, quando me vou deitar, um ritual quase sempre cumprido, o que para mim é perfeito." (...)
in 'Snu e a vida privada com Sá Carneiro', de Cândida Pinto (Dom Quixote, 2011)
Estas não incomodavam ninguém na esplanada (I)
(...) A Parada, um clube privado (...). O meu pai fez-nos sócios e os meus irmãos e eu andávamos para ali nem sei bem a fazer o quê, com as criadas vigiando-nos a fazer renda ou a ler fotonovelas (...) Só agora, cinquenta anos depois, arrisco: era um clube indolente, onde as mães bebiam Canada Dry a cartear enquanto os maridos jogavam ténis, e as mademoiselles de Bristol, Paris ou Trás-os-Montes passeavam os filhos na espécie de bosque que rodeava o clube (...)
Voltando à Parada: grande parte das crianças veio a drogar-se depois ou a traficar ou a assaltar casas de amigos ou a despenhar-se nos carros dos pais ou, ainda, a roubar lojas para comprar droga, tudo fruto daquela educação impaciente confiada a pessoal primário, industriado para se abster de considerações e só incomodar os progenitores em casos muito graves, como partir um braço ou morrer afogado nas ondas que não existiam na Praia da Conceição. Resultado: quando voltaram a ser incomodados, anos mais tarde, foi pela judiciária.
(...) Era muito pequena, pelo que a verdade é que não tenho grandes recordações da Parada, a não ser a ideia cada vez mais precisa de que os adultos não nos ligavam bóia (...)
Foi por essa altura que o meu pai, alheado mas lúcido, resolveu que aquilo não era meio para os filhos crescerem e nos arrastou nas férias para a Praia das Maçãs. (...) Os cafés eram pindéricos, a praia desabrigada, a água ártica e as ondas todos os anos levavam umas tantas crianças anónimas, já que os banheiros vigiavam com outra aplicação os filhos-família:
- Ó Fortunato, tenha paciência, veja-me aí a Madalenazinha, que é muito afoita no mar. Posso ficar descansada? (...)
in 'A menina é filha de quem?', de Rita Ferro (Dom Quixote, 2011)
Voltando à Parada: grande parte das crianças veio a drogar-se depois ou a traficar ou a assaltar casas de amigos ou a despenhar-se nos carros dos pais ou, ainda, a roubar lojas para comprar droga, tudo fruto daquela educação impaciente confiada a pessoal primário, industriado para se abster de considerações e só incomodar os progenitores em casos muito graves, como partir um braço ou morrer afogado nas ondas que não existiam na Praia da Conceição. Resultado: quando voltaram a ser incomodados, anos mais tarde, foi pela judiciária.
(...) Era muito pequena, pelo que a verdade é que não tenho grandes recordações da Parada, a não ser a ideia cada vez mais precisa de que os adultos não nos ligavam bóia (...)
Foi por essa altura que o meu pai, alheado mas lúcido, resolveu que aquilo não era meio para os filhos crescerem e nos arrastou nas férias para a Praia das Maçãs. (...) Os cafés eram pindéricos, a praia desabrigada, a água ártica e as ondas todos os anos levavam umas tantas crianças anónimas, já que os banheiros vigiavam com outra aplicação os filhos-família:
- Ó Fortunato, tenha paciência, veja-me aí a Madalenazinha, que é muito afoita no mar. Posso ficar descansada? (...)
in 'A menina é filha de quem?', de Rita Ferro (Dom Quixote, 2011)