Monday, January 26, 2009

Tpm

Raios partam as estúpidas das hormonas.

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Friday, January 23, 2009

Yes we can

Estas miúdas não usam manolos nos pés mas são umas amigas de luxo. Erguemos as caipirinhas e brindamos a uma barriga crescida, a um amor que se consolida, a um novo emprego, a uma vida, como a minha, sem grande novidade (e nos tempos que correm não ter novidade é talvez a melhor novidade de todas). Rimo-nos muito. Falamos deles. E dos putos. E da cadela. Os empregados do restaurante, encostados às mesas vazias, furiosos, murmuram entredentes então mas estas nunca mais se vão embora? Metemo-nos à chuva a planear um encontro no Verão com vestidos de festa e saltos altos (veremos, por ti, minha amiga, posso considerar essa hipótese). Foi o nosso momento Obama. Crise, qual crise?

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Sunday, January 18, 2009

Piada de caserna



(obrigado, Alexandre)

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Friday, January 16, 2009

O dia seguinte

- Estamos safos, disse o Soldado, e os seus olhos brilharam de alívio, Estamos vivos.
- Vivos? O Outro mal conseguiu esboçar um sorriso. Levantou-se e começou a apalpar o corpo em busca de feridas. Doiam-lhe os ossos, sentia os músculos tensos, a barriga apertada, uma náusea profunda. E agora? Reagir, pensou, tinha que reagir. Olhou em volta. A agitação começara mal o sol nascera. Era tempo de limpar as trincheiras. Contar mortos e feridos, enterrar os corpos, reunir os destroços. Preparar as armas para o próximo combate. As ordens vindas de cima diziam que é preciso estar a postos. Não se pode parar, diziam.
- A guerra acabou, disse o Soldado, safámo-nos. O Outro não lhe respondeu. Que ilusão. Se alguma lição se poderia tirar do dia de ontem é que nunca ninguém está safo. Na verdade, parecia-lhe que do outro lado da estrada os disparos já tinham recomeçado.
- Ouviste?
- Vamos, rastejemos para o abrigo, rasteja, Soldado, rasteja, é a única coisa que podemos fazer.

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Thursday, January 15, 2009

Bartleby

Avisam-me que, se insistir em não fazer certas e determinadas coisas, nunca irei passar da cepa torta. Bom, a cepa será torta mas ao menos mantenho a rectidão do carácter. Não se pode ter tudo.

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Wednesday, January 14, 2009

A crise

Desde o dia 2 de Janeiro contabilizamos: uma otite, uma bronquiolite, uma gastroentrite a dividir por dois que um irmão serve exactamente para isso, para aprender a partilhar, três idas ao hospital e duas idas ao pediatra, além da intensa troca de mails, uma sessão de cinesiterapia, horas e horas de aerossol, atrovent, ventilan, um antibiótico, um probiótico, um corticóide, ultra-levur, doses e doses de soro fisiológico, já nem sei quantas mudas de roupa e de lençóis por causa do cocó do inferno e do vomitado idem, três dias de falta no trabalho da mãe, dois no do pai, incontáveis noites mal-dormidas. E continua.
Não, de facto não está a ser lá muito divertido este 2009. Os economistas tinham razão.

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Thursday, January 08, 2009

O meu mundo pesa dez quilos

A faixa de gaza, a crise, o petróleo, o desemprego, a bolsa, a vida, o frio, muito muito frio, o chato do chefe, a poluição, a rússia, o obama, a avaliação dos professores, o sócrates, o santana, a hipoteca, o trabalho, o descanso. Não quero saber. Que se dane o mundo. O meu bebé está doente. Tudo o resto são ninharias.

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Sunday, January 04, 2009

Noitadas




Quando eu era miúda a emissão da RTP, que era a televisão que havia, terminava algures entre a meia-noite e a uma da manhã. Vinha a locutora para dizer até amanhã, depois aparecia o genérico, taran taran tan tan, e ficava a mira técnica durante toda a noite; ao fim-de-semana, quando eu acordava e corria para a televisão para ver os desenhos animados às vezes ainda estava o ecrã às tiras coloridas com música clássica a acompanhar. Quando se desligava a televisão era como se o país inteiro fosse descansar. Como não havia canais por cabo nem internet nem sítios para onde ir, pelo menos lá na minha terra, o pessoal não tinha outro remédio senão pegar num livrinho e deixar-se adormecer. Não passava pela cabeça ninguém, a não ser que tivesse uma daquelas insónias ou muito trabalho por fazer, ficar acordado até de madrugada. Fazendo o quê? Mesmo mais tarde e já na movimentada capital, eu ainda sou do tempo em que as discotecas fechavam às quatro da manhã. E já era tardíssimo. Lembram-se? Calava-se a música, acendiam-se as luzes e expulsavam-nos dali sem piedade sequer por aqueles que tinham de ficar ao relento fazendo tempo até à hora do barco ou do comboio para casa. Era então que íamos aos bolos de Santos ou ao cacau da Ribeira. Para acabar a noite.
Mas isto foi no antigamente, já se vê, quando a noite era noite e o dia era dia. Porque agora, neste mundo que nunca dorme, está sempre tudo aberto e tudo em funcionamento. Há sempre qualquer coisa para fazer, um jogo para jogar, um sítio para navegar, um filme qualquer para ver. Um motivo para ficar acordado. Seja em casa ou na rua. Uma pessoa que se deita, suponhamos, às onze horas é olhada com estranheza pelos amigos. O quê?, já vais dormir?, como se [eu] fosse uma aberração. É que uma pessoa normal deita-se por volta da uma da manhã, pelo menos. Os jantares marcam-se para as dez, só os parolos chegam às discotecas antes das duas e noite que é noite deve terminar lá pelas sete, quando a cidade já se movimenta e os meus filhos estão quase, quase a acordar.
Não me parece bem. Quer dizer, eu sempre fui assim meio ensonada, uma espécie de Cinderela que a partir da meia-noite podia ficar um bocadinho rabugenta, mas mesmo assim conseguia ter uma vida social mais ou menos normal. Só que isto agora atingiu proporções nunca vistas. É que há já muito tempo que não consigo fazer um programa completo com os meus amigos. Começo a bocejar quando ainda estamos nas entradas, quando chega a sobremesa já estou a cabecear e acabo sempre por os deixar a caminho de algum lado e apanhar um táxi para casa enquanto os ouço a gozar já?, mas já te vais embora?, és umas cortes, é o que és. E sou mesmo. É por isso que eu tenho saudades da mira técnica. Era assim uma espécie de Vitinho para os crescidos. Dizia-nos que estava na hora de ir para cama. E ninguém questionava isso. Toda a gente se deitava e dormia as suas sete horinhas de sono, que tão bem fazem à pele e ao humor das pessoas. E nunca ninguém ia reparar que eu já não aguento uma noitada à séria.

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Thursday, January 01, 2009

Apresentando Antonio Prata (com votos de bom ano, muita paz, saudinha, essas coisas)

Bar ruim é lindo, bicho!

por Antonio Prata

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de cento e cinqüenta anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de cento e cinqüenta anos, mas tudo bem).

No bar ruim que ando freqüentando ultimamente o proletariado atende por Betão – é o garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas, acreditando resolver aí quinhentos anos de história.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar “amigos” do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura.

– Ô Betão, traz mais uma pra a gente – eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte dessa coisa linda que é o Brasil.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte dessa coisa linda que é o Brasil, por isso vamos a bares ruins, que têm mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gâteau e não tem frango à passarinho ou carne-de-sol com macaxeira, que são os pratos tradicionais da nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gâteau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, gostamos do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne-de-sol, uma lágrima imediatamente desponta em nossos olhos, meio de canto, meio escondida. Quando um de nós, meio intelectual, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectuais, meio de esquerda, freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim.

O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e, um belo dia, a gente chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e, principalmente, universitárias mais ou menos gostosas. Aí a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevette e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.

Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantêm o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam cinqüenta por cento o preço de tudo. (Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato). Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se dão mal, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão Brasil, tão raiz.

Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda em nosso país. A cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelos Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gâteau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda que, como eu, por questões ideológicas, preferem frango à passarinho e carne-de-sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca, mas é como se diz lá no Nordeste, e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o Nordeste é muito mais autêntico que o Sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é bem mais assim Câmara Cascudo, saca?).

– Ô Betão, vê uma cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

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