Sunday, January 23, 2011
Friday, January 14, 2011
Quero ver
PINA - Dance, dance, otherwise we are lost from neueroadmovies on Vimeo.
O filme que Wim Wenders fez para Pina Bausch estreia no Festival de Berlim, no próximo mês.
Saturday, January 08, 2011
Dias de chuva
Os dias de chuva são sempre maus.
Os dias de chuva quando se tem um marido gripado e febril na cama são um bocadinho piores.
Os dias de chuva quando se tem um marido gripado e febril na cama e se tem de ficar em casa com duas crianças irrequietas são ainda piores.
Os dias de chuva quando se tem um marido gripado e febril na cama e se tem de ficar em casa com duas crianças irrequietas e se está com uma tpm do tamanho do mundo são muito, muito piores.
Acho que, tendo em conta as circunstâncias, até não nos saímos mal.
Os dias de chuva quando se tem um marido gripado e febril na cama são um bocadinho piores.
Os dias de chuva quando se tem um marido gripado e febril na cama e se tem de ficar em casa com duas crianças irrequietas são ainda piores.
Os dias de chuva quando se tem um marido gripado e febril na cama e se tem de ficar em casa com duas crianças irrequietas e se está com uma tpm do tamanho do mundo são muito, muito piores.
Acho que, tendo em conta as circunstâncias, até não nos saímos mal.
Thursday, January 06, 2011
Lisboa. Primeira parte: infância
Vínhamos a Lisboa para vir ao médico. Ao oftalmologista, ao otorrino, ao oncologista. Era isso e comprar botas ortopédicas na rua da Madalena. Eu odiava as botas ortopédicas de sola dura que me pesavam nos pés e faziam escorregar no recreio da escola. Não se pode gostar de uma cidade que nos faz perder à apanhada com os rapazes, pensava. Levantávamo-nos cedo porque as autoestradas não eram como hoje e eu dormia a maior parte do caminho, acordando quando se avistava o Cristo Rei e a ponte 25 de Abril, o Tejo imenso e a cidade ao fundo, era a maior cidade que eu conhecia e gostava de a ver cá de cima, só telhados e varandas, roupa estendida, casas antigas. Muitas casas. Descíamos a António Augusto Aguiar e entrávamos na confusão. Tantos carros, buzinas, semáforos, o ruído dos autocarros, um cheiro a tubos de escape e alcatrão. Os cheiros, aliás, eram todos intensos. O cheiro da cera nos corredores de Santa Maria. O cheiro a mofo e a chichi de gato nos prédios onde ficavam os consultórios. O cheiro das castanhas assadas nas ruas (não havia castanhas assadas na minha terra). O cheiro a fritos nos restaurantes onde comíamos um bitoque e comer um bitoque, naquele tempo, para mim, era mais ou menos como hoje os miúdos comerem um happy meal, uma ocasião especial. Depois do almoço estacionávamos o carro no parque dos Restauradores e íamos à Baixa, ver as novidades da Lojas das Meias e da Casa Africana, entrar na Charles, percorrer os corredores labirínticos dos Porfírios, comprar tecidos e linhas para bordar em lojas pequenas de cheiro a naftalina e senhoras com troço na cabeça, andar nas escadas rolantes do Grandella e, no Natal, passar horas a olhar para os bonecos que se mexiam nas montras dos armazéns. Gente aos encontrões no passeios. Os pedintes (na minha terra não havia pedintes). A mão do meu pai, firme, a agarrar a minha. Vem cá, não te afastes, não atravesses, não corras. Lanchar na Suíça ou na Confeitaria Nacional e voltar para casa, fugir do trânsito, dos carros e dos autocarros, das buzinas e daquele cheiro a tubos de escape e alcatrão. Adormecer no carro. Tomar banho. Livrarmo-nos do pó que se entranhara no cabelo e na pele. Não se pode gostar de uma cidade que nos faz macacos pretos no nariz, pensava. Mal eu sabia ainda.
(texto publicado originalmente no Delito de Opinião)
(texto publicado originalmente no Delito de Opinião)
Tuesday, January 04, 2011
Sejam bem vindos, estranhos
O Pedro não se conforma com o facto de eu não ser uma blogger a sério. Que não tenho uma lista de blogs preferidos aqui ao lado, que não faço (não sei fazer) links nos meus posts, que não tenho contador e por isso não sei quantas pessoas me lêem nem de onde vêm, que não participo nos grandes debates da blogosfera. É uma pena, diz ele. Mas eu gosto de estar assim, na semi-clandestinidade. Só cá vem quem me conhece e eu não tenho que fazer cerimónia, posso receber as visitas de roupão e pantufas. Foi por isso que hesitei um pouco quando o Pedro me convidou a ir lá, ao Delito de Opinião. É um pouco intimidante, confesso. Mas, pronto, uma pessoa não se pode deixar vencer pela timidez, não é? Cresce e aparece, Maria João. De modos que hoje me arranjei a preceito, vesti roupa nova, pus um batôn, e aqui estou pronta a receber todos os quiserem vir cuscar a minha casa. É uma vez sem exemplo. Aproveitem.
Labels: blog
Sporting olé
Cá em casa não ligamos muito à bola. Não vamos ao estádio, não temos sport tv, e, com excepção dos campeonatos da europa e do mundo, não costumamos ver os jogos nem discutir os resultados. A bem dizer, a única coisa que me interessa de facto é saber quando há jogos na luz por causa do trânsito na minha rua. O meu filho não tinha, portanto, maneira de saber que nós somos do benfica. E, por isso, também não estranhámos quando, à semelhança da maioria dos seus amigos, o rapaz se declarou sportinguista ferrenho. Deixamo-lo gritar pelo Liedson à vontade (antes era o João Moutinho) e até lhe oferecemos um equipamento verde e branco. Somos uns pais modernos e tal e respeitamos as suas opções, pelo menos até ele chegar a casa de cabeça rapada ou algo assim.
Ontem, o António foi, pela primeira vez ao futebol. O avô benfiquista arranjou os bilhetes, o pai benfiquista comprou um cachecol e lá foram eles enquanto a mãe benfiquista ficou em casa a brincar aos médicos com o pequenino e a ver o jogo pelo canto do olho, desejando secretamente que o sporting marcasse ao menos um golo para que a criança ficasse feliz. Queria tanto ter lá estado para o ver, eufórico, de braços no ar, de pé em cima do banco, um sorriso de orelha a orelha e a gritar spoooooorting. Acho que nunca tínhamos festejado tanto uma vitória na taça da liga.
Fazemos coisas estranhas pelos nossos filhos.
Ontem, o António foi, pela primeira vez ao futebol. O avô benfiquista arranjou os bilhetes, o pai benfiquista comprou um cachecol e lá foram eles enquanto a mãe benfiquista ficou em casa a brincar aos médicos com o pequenino e a ver o jogo pelo canto do olho, desejando secretamente que o sporting marcasse ao menos um golo para que a criança ficasse feliz. Queria tanto ter lá estado para o ver, eufórico, de braços no ar, de pé em cima do banco, um sorriso de orelha a orelha e a gritar spoooooorting. Acho que nunca tínhamos festejado tanto uma vitória na taça da liga.
Fazemos coisas estranhas pelos nossos filhos.
Sunday, January 02, 2011
Que seja melhor, sff.
Um dia, ao olhar para o pai, a Mafaldinha ficou a pensar: será o pai que está a fumar o cigarro ou será o cigarro que o está a fumar a ele?
Lembrei-me disto, não sei porquê, quando tentei fazer um balanço do ano que terminou e não consegui decidir se foi bom ou se foi mau ou sequer se foi melhor ou pior do que o anterior. Foi um ano que passou, mais um, e só isso já é uma pequena vitória. Às vezes é difícil perceber se somos nós que vivemos a vida ou se é a vida que nos está a viver a nós. Seja como for, aqui estamos, prontos para mais um ano, novinho em folha, pronto a estrear. E que seja melhor, sff.
Lembrei-me disto, não sei porquê, quando tentei fazer um balanço do ano que terminou e não consegui decidir se foi bom ou se foi mau ou sequer se foi melhor ou pior do que o anterior. Foi um ano que passou, mais um, e só isso já é uma pequena vitória. Às vezes é difícil perceber se somos nós que vivemos a vida ou se é a vida que nos está a viver a nós. Seja como for, aqui estamos, prontos para mais um ano, novinho em folha, pronto a estrear. E que seja melhor, sff.
Labels: Vida