Eu por mim via tudo. Tudinho. A natação e o atletismo, o remo e o vólei, o basquete e o andebol, o futebol e o ténis, os saltos para a água e a ginástica, o judo e o levantamento de pesos, a vela e o hipismo. Eu por mim via tudo, até o tiro e a luta greco-romana. Eu até via o badmington (ele há coisas estranhas, o badminton é modalidade olímpica, vá-se lá saber porquê) e o ping-pong, o vólei de praia e o ciclismo. Eu por mim via tudo e, por isso, nestes últimos dias não há zapping possível cá em casa. É olimpíadas ou olimpíadas. O miúdo, que não é tonto, percebeu rapidamente que tinha aqui a desculpa ideal para romper com todas as regras e ver televisão a qualquer hora. Posso ligar, mãe? Vamos ver os jogos olímpicos. E eu acedo, pois os jogos não são televisão normal. Não têm maus nem violência, não têm princesas com super-poderes nem monstros assustadores. Pelo contrário, com os jogos aprendemos muito. Aprendemos, antes de mais, que há desporto para além do futebol, e isso só pode ser bom. O puto imita tudo. Põe-se em posição para começar a corrida, treina o lançamento dos bonecos, joga vólei quase na perfeição e faz saltos de toda a maneira e feitio. E vai perguntando as regras todas. Já sabe que no judo só ganhamos se outros meninos caírem de costas, que na esgrima basta tocar no adversário (não é preciso matá-lo, pois não?), que no andebol ninguém pode entrar na casa do guarda-redes, que no salto com vara o objectivo é passar por cima e não acertar na barra (como ele pensava que era quando viu um atleta a saltar pela primeira vez). Com os jogos aprendemos que ficar em segundo e terceiro também é bom, porque há medalhas de ouro, de prata e de bronze. E que às vezes os meninos não ganham nada mas batem recordes (mãe, o que é um recorde?). Aprendemos nomes de países "estranhos" como República Checa, Bahrein, Qatar, Bielorrúsia e treinamos as nacionalidades todas. Ele conhece as nossas bandeiras, de Portugal e do Brasil, mas também já conhece as bandeiras de Espanha, de França, da Alemanha e do Michael "Pelfs" que, como toda a gente sabe, até o meu filho de quatro anos, "é o melhor do mundo". Ao terceiro dia de jogos já me perguntava "porque é que os chineses ganham tudo?". Noutro dia perguntou-me porque é que a menina que ganhou estava a chorar. E tudo isto são pretextos para conversarmos um pouco. Só ainda não lhe consegui explicar que antes das finais há as eliminatórias e as séries - isso é confusão de mais, para ele uma vitória é uma vitória e, por isso, festejámos entusiasmados as vitórias portuguesas numas séries quaisquer da natação e do remo, gritámos Portugal, Portugal e saltámos pela casa como se os tugas fossem os maiores. Para dizer a verdade, a mim não me faz grande diferença. Eu emociono-me com qualquer hino. Quando os vejos no pódio, sejam americanos ou etíopes, todos compenetrados a olhar para a sua bandeira, o estádio cheio de gente a bater palmas, fico logo com a lágrima no canto do olho a pensar como deve ser uma sensação do caraças estar ali, conseguem imaginar?, ter pessoas a torcer por nós, segurar uma bandeira, receber uma medalha. Ser um herói olímpico. Isso é que era.
(sinceramente, até me custa ir de férias e perder o resto dos jogos. a ver se daqui a quatro anos me lembro de marcar as férias noutra altura. enfim. lá vamos. tentar descansar. estarei desligada, como é costume. a rentrée está marcada para a segunda semana de setembro, mais coisa menos coisa.)
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