Leituras
O Principezinho, de Saint-Exupéry. É um cliché mas é verdade. Deve andar lá por casa dos meus pais uma edição muito antiga, toda riscada e com algumas páginas em falta. As crianças são muito cruéis. Mas como o essencial é invisível aos olhos…
O meu pé de laranja lima, de José Mauro de Vasconcelos. Foi a minha professora de português do primeiro ano do ciclo quem mo ofereceu. Chamava-se Maria Luísa. Foi a primeira vez que chorei a ler um livro. Ainda hoje, quando passo por aquelas páginas, o comboio a apanhar o portuga e o rapaz que cresceu demasiado cedo, sinto um nó na garganta.
Enid Blyton. Não foram só os Cinco. Foram também as Gémeas e o Colégio das Quatro Torres. Eu e a minha irmã lemos as colecções até as páginas se descolarem todas umas das outras e as capas ficarem irremediavelmente amarfanhadas. Com Enid Blyton passei a sonhar com bacon e ovos fritos (eu não fazia a mínima ideia do que era bacon), a imaginar-me a jogar hóquei em campo e lacrosse (eu não fazia a mínima ideia do que era lacrosse) e a desejar estudar num colégio só de raparigas (está bom de ver que eu também não fazia a mínima ideia do que seria uma colégio só com raparigas).
Toda a Mafalda, de Quino. Acho que comecei demasiado cedo a ler aqueles volumes, penso que eram cinco, cada um da sua cor. Passaram-me ao lado algumas das piadas mais políticas, que tinham a ver com a guerra fria ou com a américa latina. Mas em compensação sei montes de tiras de cor. E continuo a lê-la. A Mafaldinha não envelhece.
Agatha Christie e livros de espiões. Tiveram a sua fase, algures na adolescência. Havia uma colecção dos Livros do Brasil. Foi com alguns desses livros que aprendi coisas sobre a segunda guerra mundial, a guerra fria, a Stasi e a Mossad. Acreditei, durante algum tempo, que Hitler estava vivo e escondido num bunker qualquer.
Gabriel García Márquez e Isabel Allende. É injusto pô-los assim, no mesmo saco, eu sei. É só uma questão de arrumação cronológica, andei a lê-los mais ou menos na mesma altura. Mas prefiro-o a ele, claro. Gosto dos romances, como toda a gente, mas gosto ainda mais dos contos. Pequenas histórias que deambulam entre a verdade e a ficção e que nos deixam com a sensação de que deveríamos andar mais atentos ao mundo, que está ao alcance de qualquer um encontrar personagens assim.
António Lobo Antunes. Comecei com a Exortação aos Crocodilos e fui andando para trás, à procura dos livros mais antigos, das histórias de África, das memórias da guerra. Mesmo quando as obras não são brilhantes tem pormenores de génio. Frases que mexem comigo. Os livros mais recentes parecem-me impenetráveis, mas a culpa não é dele, a culpa é minha que já não tenho disponibilidade para me entregar à sua escrita. Não se consegue ler um romance de Lobo Antunes entre viagens de metro e cinco minutos antes de adomecer. Os últimos dois livros estão na estante, à espera da minha reforma. Felizmente, tenho as suas crónicas para me matarem a sede.
Ensaio sobre a cegueira, de Saramago.
De profundis valsa lenta, de Cardoso Pires.
Carandiru e Por um fio, ambos de Drauzio Varella.
Porque há livros que nos revolvem por dentro.
Entre África, Portugal e o Brasil. É onde me encontro, neste momento. Amo os mais recentes de Agualusa (O vendedor de passados, As mulheres do meu pai), e as pequenas e grandes pérolas de Ruy Castro. Vou lendo o curso breve de literatura brasileira da Cotovia e vou dando um salto aos nossos (José Luís Peixoto, Pedro Rosa Mendes, Francisco José Viegas, Rui Cardoso Martins, etc.). Peço desculpa aos anglo-saxónicos, ao Paul Auster, ao Ian McEwan, ao Philip Roth, ao Don Delillo, ao Paul Bowles. Haverei de voltar às suas páginas um dia. Por agora, estou a gostar de ler sem precisar de tradução.
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