Rugas
"Então e a menina o que deseja?" A menina sou eu. E de cada vez que um taxista ou empregado de balcão me trata assim, por menina, não sei se hei de ficar preocupada (meu deus, a minha mãe tinha razão, tenho que começar a ter mais atenção à roupa que uso, ir ao cabelereiro, pôr uma corzinha na cara, calçar uns saltos, deixar de ser criança, ter uma atitude adulta) ou feliz (sim, mantenho a jovialidade apesar de já ter passado dos 30 e de ser uma respeitável mãe de família). Opto geralmente pela segunda opção e não consigo evitar o sorriso. A menina que eu sou, no entanto, começa a sentir-se velha. Talvez ainda não se note nas rugas da cara mas...
Sei que estou a ficar velha quando, depois de ter saído um bocadinho à noite, acordo de rastos, como se tivesse levado uma sova, e passo o dia mal humorada, a rosnar para o lado e a contar os minutos que faltam para a hora de dormir.
Quando fico a olhar para os jovens que se sentam à minha frente no metro e tenho vontade de me zangar com eles porque dizem palavrões, porque se portam mal, porque, simplesmente, são parvos, ou porque se lambuzam e se apalpam e quase se despem, ignorando os olhares e os "hum hum" das pessoas à sua volta.
Quando num ano de muitos e bons concertos não vou a nenhum festival de música porque já não tenho paciência para casas de banho mal-cheirosas, filas para comprar uma bifana, cerveja em copos de plástico, cerveja entornada por cima de mim, cerveja de qualquer maneira, malta que já bebeu de mais ou chegar a casa com os sapatos todos sujos de pó.
Quando, ao falar com as estagiárias que acabaram de sair da faculdade, descubro que nasceram em 1986, nunca ouviram um disco de vinil nem uma cassete (e é preciso explicar-lhes que antes dos i-pod havia uma coisa chamada walkman), não viram filmes em VHS, não sabem o que é viver com dois canais de televisão, sem computador nem internet nem telemóvel, não imaginam a sua vida sem SMS nem messenger, não se lembram (não podem lembrar-se) da queda do muro de Berlim e têm uma vaga ideia de que houve uma guerra no Iraque antes daquela que hoje é notícia nos telejornais.
Quando alguma dessas estagiárias me trata por você. Não, você não. Eu sou a menina.
Sei que estou a ficar velha quando, depois de ter saído um bocadinho à noite, acordo de rastos, como se tivesse levado uma sova, e passo o dia mal humorada, a rosnar para o lado e a contar os minutos que faltam para a hora de dormir.
Quando fico a olhar para os jovens que se sentam à minha frente no metro e tenho vontade de me zangar com eles porque dizem palavrões, porque se portam mal, porque, simplesmente, são parvos, ou porque se lambuzam e se apalpam e quase se despem, ignorando os olhares e os "hum hum" das pessoas à sua volta.
Quando num ano de muitos e bons concertos não vou a nenhum festival de música porque já não tenho paciência para casas de banho mal-cheirosas, filas para comprar uma bifana, cerveja em copos de plástico, cerveja entornada por cima de mim, cerveja de qualquer maneira, malta que já bebeu de mais ou chegar a casa com os sapatos todos sujos de pó.
Quando, ao falar com as estagiárias que acabaram de sair da faculdade, descubro que nasceram em 1986, nunca ouviram um disco de vinil nem uma cassete (e é preciso explicar-lhes que antes dos i-pod havia uma coisa chamada walkman), não viram filmes em VHS, não sabem o que é viver com dois canais de televisão, sem computador nem internet nem telemóvel, não imaginam a sua vida sem SMS nem messenger, não se lembram (não podem lembrar-se) da queda do muro de Berlim e têm uma vaga ideia de que houve uma guerra no Iraque antes daquela que hoje é notícia nos telejornais.
Quando alguma dessas estagiárias me trata por você. Não, você não. Eu sou a menina.
Labels: envelhecer
1 Comments:
I know the feeling, menina!
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