A casinha - ha um ano era assim
Mãe, canta a casinha, mãe. Na penumbra do quarto, a voz sai quase sussurrada.
Eu tenho uma casinha lá na Marambaia, fica na beira da praia, só vendo que beleza, tem uma trepadeira que na Primavera fica toda florescida de brincos de princesa.
Moreno Veloso canta muito melhor do que eu e, na versão original, a música é mais rápida, mais acelerada. Não foi pensada para canção de embalar, suponho. Mas quando se tem um bebé de meses em pranto no colo uma pessoa tenta qualquer coisa. Tom Jobim, João Gilberto, Adriana Calcanhotto, Caetano Veloso, Gilberto Gil. Vai minha tristeza e diz a ela que sem ela não pode ser. Entre por essa porta agora. Felicidade foi embora e a saudade no meu peito. Cada um tem o seu repertório e eu, à falta de músicas com galinhas doidas e coelhinhos de olhos vermelhos (haveria de as aprender, mas mais tarde), cantava as que sabia. Uma aproximação. O pato vinha cantando alegremente. Gosto muito de você leãozinho. Traga-me um copo de água, tenho sede. Até que encontrámos “a casinha”.
Quando chega o Verão eu me sento na varanda, pego o violão e começo a tocar. Minha morena que está sempre bem disposta senta-se ao meu lado também a cantar.
O choro parou.
Quando chega a tarde um bando de andorinhas passa em revoada fazendo o Verão e lá na mata o sabiá gorjeia uma linda melodia pra alegrar meu coração.
Desde então, o ritual repete-se todas as noites. Mãe, canta a casinha, mãe. E eu canto. Trocando as voltas à melodia, desafinando a torto e a direito, acariciando-lhe de mansinho a testa quente. Enrodilhado nos lençóis, o puto acompanha a letra, sabe-a de cor mesmo que não faça ideia o que é uma princesa, uma morena ou um sabiá.
Às seis horas da tarde o sino da capela bate as badaladas da avé Maria e a lua nasce por detrás da serra anunciando que acabou o dia.
Nesta altura, com a voz já meio embargada, ele diz ó-ó, volta a pôr a chucha na boca e aconchega-se no seu cantinho para dormir a noite inteira. E isso é que é uma verdadeira beleza.
Eu tenho uma casinha lá na Marambaia, fica na beira da praia, só vendo que beleza, tem uma trepadeira que na Primavera fica toda florescida de brincos de princesa.
Moreno Veloso canta muito melhor do que eu e, na versão original, a música é mais rápida, mais acelerada. Não foi pensada para canção de embalar, suponho. Mas quando se tem um bebé de meses em pranto no colo uma pessoa tenta qualquer coisa. Tom Jobim, João Gilberto, Adriana Calcanhotto, Caetano Veloso, Gilberto Gil. Vai minha tristeza e diz a ela que sem ela não pode ser. Entre por essa porta agora. Felicidade foi embora e a saudade no meu peito. Cada um tem o seu repertório e eu, à falta de músicas com galinhas doidas e coelhinhos de olhos vermelhos (haveria de as aprender, mas mais tarde), cantava as que sabia. Uma aproximação. O pato vinha cantando alegremente. Gosto muito de você leãozinho. Traga-me um copo de água, tenho sede. Até que encontrámos “a casinha”.
Quando chega o Verão eu me sento na varanda, pego o violão e começo a tocar. Minha morena que está sempre bem disposta senta-se ao meu lado também a cantar.
O choro parou.
Quando chega a tarde um bando de andorinhas passa em revoada fazendo o Verão e lá na mata o sabiá gorjeia uma linda melodia pra alegrar meu coração.
Desde então, o ritual repete-se todas as noites. Mãe, canta a casinha, mãe. E eu canto. Trocando as voltas à melodia, desafinando a torto e a direito, acariciando-lhe de mansinho a testa quente. Enrodilhado nos lençóis, o puto acompanha a letra, sabe-a de cor mesmo que não faça ideia o que é uma princesa, uma morena ou um sabiá.
Às seis horas da tarde o sino da capela bate as badaladas da avé Maria e a lua nasce por detrás da serra anunciando que acabou o dia.
Nesta altura, com a voz já meio embargada, ele diz ó-ó, volta a pôr a chucha na boca e aconchega-se no seu cantinho para dormir a noite inteira. E isso é que é uma verdadeira beleza.
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