Agosto
Eu até nem gosto assim tanto de praia. Não fosse o puto e só lá me apanhavam por meia hora, no máximo, o tempo de ir descalça até lá ao fundo, com os pés na areia molhada e as ondas a virem, de vez em quando, salpicar-me os tornozelos. Depois ia sentar-me no café, à sombra da varanda, bebia um sumo de laranja ou comia um crepe de chocolate na companhia de um livro ou do jornal ou de ambos. Poderia ficar ali horas. A ver o mar, a ver as pessoas que descem a ladeira, a procurar o meu surfista lá longe, um homem de preto no meio de uma dúzia de homens de preto, a passar as páginas, a ouvir o Ben Harper. Podia ser Outubro ou Dezembro, podia até estar a chuviscar, e eu embrulhava-me ainda mais no casaco, pedia uma bica e deixava-me estar, sem ter que espalhar cremes nem fazer castelos de areia nem saltar as poças nem correr feita tonta nem procurar caranguejos nem tomar banho na água gelada nem preocupar-me com a celulite nem ficar estoirada e ter que ir no dia seguinte e no outro e no outro até ao fim de Agosto.
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