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O nome e a morada e a data de nascimento, o número do bilhete de identidade e o de contribuinte, o número da conta, o número do telefone. Uma vez e outra e outra e outra e ainda mais outra. Cinco vezes. Em cinco folhas diferentes. O nome do pai e da mãe, que havemos de ter cinquenta anos e ainda não somos ninguém por direito próprio, temos que dar o nome do pai e da mãe e dizer onde nascemos e com que nacionalidade. Mas… não sabiam já? Mas… não dei já uma fotocópia? É que já me dói o pulso e não acho normal. Tenho conta neste banco desde que nasci, é aqui que recebo o ordenado e pago a água e a luz. Conhecem a minha miséria por dentro mas não sabem o meu nome? Pois sim, mas tem que escrever de novo, em letra de forma, não se esqueça, e assinar e rubricar. E isto foi só para pedir um crédito à habitação. Diz que para vender a outra casa é preciso pedir a certidão de nascimento e a de casamento. O quê? Desculpe, mas parece que na certidão de casamento diz lá onde nascemos, não é? Isso não serve? E o bilhete de identidade também diz onde nasci, também não serve porquê? Não, não, não, isso seria demasiado fácil. É preciso ir a uma loja do cidadão, tirar uma senha, esperar na fila, pagar uns euros e escrever outra vez o nome e a morada e a data de nascimento. Estão a gozar comigo? O senhor do banco olha para mim com cara de poucos amigos, pois, minha senhora, a culpa não é minha, é mesmo assim, são os procedimentos, estende o dedo na direcção do papel, e agora tem que escrever aí e em maiusculas, está a ver?, nesses quadradinhos, escreva bu-ro-cra-cia.
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