Uma mãe não chora. Uma mãe pode ficar um bocadinho em pânico quando vê a ferida, achar até que vai desmaiar por dois ou três segundos, mas depois recompõe-se e passa logo à parte prática, de ver o que é preciso, antecipar os próximos passos, tratar de tudo e ficar calma e serena, como devem ser as mães. Agarra a mão de criança e promete-lhe que vai ficar tudo bem. Uma mãe não chora. Mesmo que tenha que ir na ambulância a fazer conversas parvas para distrair o miúdo. Mesmo que olhe para ele e o veja assustado, sério, pálido, sem sorrir, sem falar, sabe-se lá o que lhe passa pela cabeça, sabe-se lá o esforço que ele não estará a fazer para não chorar. Por isso uma mãe não chora. Dá-lhe beijinhos, faz-lhes festinhas, oferece o braço para que ele aperte com força quando o picam, diz-lhe que vai passar tudo depressa, que os médicos estão ali para o tratar (e estão a conseguir?, pergunta ele, no meio da confusão). Uma mãe não chora mesmo quando (e sobretudo se) vê o filho aflito. Se lhe nota a tristeza de quem não vai poder correr e jogar à bola nos próximos tempos. Mesmo que esteja a morrer de preocupação, uma mãe repete mil vezes que ele vai ficar bom. Não te preocupes, diz. Carrega-o ao colo, e que grande que ele está!, dá-lhe a sopa à boca, deixa-o jogar playstation até ele se fartar e dizer que não quer mais. Uma mãe levanta-se a meio da noite para o ir tapar, para lhe dar remédio, para lhe levantar a perna, para ver se ele está com dores e, naquele vai e vem na escuridão, talvez deixe cair uma lágrima. Uma só. Que uma mãe também não é de ferro. Só está a fazer de conta.
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