Tenho pesadelos tremendos com aquelas senhoras muito tias que têm um programa na televisão em que mudam a casa das pessoas enquanto elas vão passar fins-de-semana descansadinhas no campo e nem sonham que, ao voltar, vão ter a sala pintada de cor-de-rosa com cortinados verdes e tapetes às bolinhas, um chão falso a ranger nos pés e tudo muito fashion, ai que giro, que ideia tão prática e original e barata e tudo e tudo, é só perder um tempinho a pintar os móveis de azul-bebé ou a forrar paredes com papel às flores e parece logo uma casa nova. Pronto, talvez não tenha pesadelos, mas dou graças a deus por não ter oportunidade de ir passar fins-de-semana descansadinha ao campo porque eu nem sei o que é que faria se algum amigo engraçadinho se lembrasse de pôr o querido na minha casa nada fashion que está há quase dois anos à espera de ganhar uns cortinados de jeito e uns tapetes e uns quadros que estão por aí mas nunca se penduraram nas paredes. No outro dia apanhei um desses programas em que essa tal senhora tia apresentava a decoração para uma festa de crianças no jardim, com uma mesinha amorosa com louças em miniatura, chávenas de chá e assim, ai que fofo, e um centro de mesa com chupa-chupas e vejam como é tão fácil fazer uma coisa diferente e as crianças adoram, não tem que ser tudo de plástico, dizia ela que nem deve ter filhos ou então tem uma criada que lava a loiça toda depois das festas dos putos, pois não, não tem que ser tudo comprado no supermercado, e eu só me ria de imaginar o vândalo do meu filho mais os amigos dele a brincar ao wrestling entre as almofadas cor-de-rosa colocadas em efeito de flor e a entornarem tudo e a perguntarem pelas batatas fritas e pelo sumo, que o meu filho não é lá muito requintado, coitado, não gosta de chá nem liga nenhuma a porcelanas ou a centros de mesa. Além disso, sempre gostava de ir ver aquelas casas todas um ano depois, a ver como é que as pessoas se dão com a decoraçãozinha colorida e com as coisas que hão de começar a sujar-se e a descolar-se e a estragar-se não tarda... pois, tá bem, não estou lá muito bem humorada, mas irrita-me esta coisa de as pessoas acharem que mudando o embrulho (seja a decoração da casa ou o nosso guarda-roupa) nos tornamos logo pessoas mais charmosas e felizes. Isto para não falar da incompreensível obsessão dos decoradores pelo verde-alface.
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