Sim, aceito
Às sete da manhã a minha irmã foi buscar-me a casa para irmos à cabeleireira. Chovia um bocadinho. Também tinha sido ela que, dois dias antes, me tinha levado à esteticista, para tirar os pêlos a mais e fazer a minha primeira (e até agora única) limpeza de pele. E tinha sido ela que, na noite anterior, estivera a arranjar-me as unhas. A minha irmã é a minha anja. A anja principal, digamos assim. Porque há outras. As minhas amigas chegaram cedo para nos pormos bonitas. Juntámo-nos num quarto com os vestidos, os sapatos e os batons. Coisas de miúdas. Também tinham sido elas a ajudar-me a escolher o vestido, o vestido perfeito. Só não conseguiram obrigar-me a usar pérolas ou fios de ouro, mas, tirando isso, estava uma senhora. Acho que chorei um bocadinho quando desci as escadas e vi toda a gente ali, empinocada, à minha espera. Não fomos para a igreja, fomos para o registo e a senhora começou a ler aquilo muito depressa, com aqueles termos todos como se fosse um contrato comercial. Não teve grande graça, para dizer a verdade. Mas nós não nos importámos. Dissemos umas piadas. Na hora de assinar tremiam-nos as mãos. Depois fomos em fila para o almoço. Tirámos as fotografias da praxe. A comida era bem boa, o Artur pôs uma musiquinha, e estavam lá todas as pessoas, praticamente todas as pessoas que eu queria que estivessem. E não estava ninguém que eu não quisesse ver ali. Apesar disso, a meio da tarde houve uma discussão de família mas eu fugi dela, fingi que não vi. Ninguém ia estragar este dia nem mesmo o jogo de futebol que passava numa televisão minúscula junto ao bar. Tive que ir lá, arrancar o meu homem para dançar. E não era valsa, não, era a Marisa Monte, e os nossos olhos brilharam juntos de emoção. No momento do brinde, uma das madrinhas leu Milan Kundera e, se não fossem os urros de um dos convidados que, toldado pelo vinho e pela alegria, insistia em gritar por “portugal, portugal” (parece que tínhamos sido apurados para um campeonato qualquer), a coisa até tinha sido calminha. Dancei para ele já de noite e foi giro ver os meus pais a rirem enquanto eu cantava “e vou fazer você ficar louca dentro de mim”. Não me perguntem onde fui arranjar coragem para aquilo, nem sequer tinha bebido assim tanto gin tónico. Serviram caldo-verde. Não demos prendinhas a ninguém. Ficámos até ao fim a bebericar e a conversar por ali. Os empregados foram-se embora e deixaram-nos lá, com um prato de queijos e camarão. E quando já estávamos muito cansados dissemos boa-noite e fomos dormir, tínhamos os quartos todos reservados e toda a gente sabia qual era o nosso mas não houve partidas parvas nem nada. Na manhã seguinte, ao pequeno-almoço, estavam lá alguns dos nossos mais queridos amigos, a comer pão com manteiga e café. Estava um sol de outono e o anel ainda estava muito brilhante, com aquele brilho de novo. E não sei porquê senti aquela sensação de que nada poderia correr errado. Tinha a certeza absoluta. Ainda tenho (na maior parte do tempo). E é por isso que este fim-de-semana estamos a festejar.
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