Parabéns VHM
"perdemos alguém e temos de superar o primeiro inverno a sós, e a primeira primavera e depois o primeiro verão, e o primeiro outono. e dentro disso, é preciso que superemos os nossos aniversários, tudo quanto dá direito a parabéns a você, as datas da relação, o natal, a mudança dos anos, até a época dos morangos, o magusto, a chuva de molha tolos, o primeiro passo de um neto, o regresso de um satélite à terra, a queda de mais um avião, as notícias sobre o brasil, enfim, tudo. e também é preciso superar a primeira saída de carro a sós. o primeiro telefonema que não pode ser feito para aquela pessoa. a primeira viagem que fazemos sem a sua companhia. os lençóis que mudamos pela primeira vez. as janelas que abrimos. a sopa que preparamos para comermos sem mais ninguém. o telejornal que não comentamos. um livro que se lê em absoluto silêncio. o tempo guarda cápsulas indestrutíveis porque, por mais dias que se sucedam, sempre chegamos a um ponto onde voltamos atrás, um início qualquer, para fazer pela primeira vez alguma coisa que nos vai dilacerar impiedosamente porque nessa cápsula se injecta também a nitidez do quanto amávamos quem perdemos, a nitidez do seu rosto, que por vezes se perde mas ressurge sempre nessas alturas, até o timbre da sua voz, chamando o nosso nome ou, mais cruel ainda, dizendo que nos ama com um riso incrível pelo qual nos havíamos justificado em mil ocasiões no mundo."
'A máquina de fazer espanhóis' é um livro sobre a velhice e sobre todos nós que ainda não somos velhos, sobre a perda, sobre a família, sobre a amizade, sobre a morte, sobre a fé e a esperança que se perde ou que se ganha à medida que nos aproximamos do fim, e é um livro fabuloso do Valter Hugo Mãe. Gostava de o conhecer um dia, só para lhe agradecer por todas aquelas páginas, a que nunca me canso de voltar.
'A máquina de fazer espanhóis' é um livro sobre a velhice e sobre todos nós que ainda não somos velhos, sobre a perda, sobre a família, sobre a amizade, sobre a morte, sobre a fé e a esperança que se perde ou que se ganha à medida que nos aproximamos do fim, e é um livro fabuloso do Valter Hugo Mãe. Gostava de o conhecer um dia, só para lhe agradecer por todas aquelas páginas, a que nunca me canso de voltar.
Labels: Livros
2 Comments:
arrepiei-me com este excerto... identifico-me com algumas perdas que já tive pelo caminho... mas ainda cá ando. Não há outro modo :(
Ao segundo dia das nossas férias de Verão, um enfarte agudo do miocárdio faz-me agora estar a passar o primeiro ano, desde há 24 anos, de lareira apagada, de castanhas assadas sem ser por ele, de frio que não há roupa que me aqueça, de uma tristeza que não sei como caminho. O meu marido não era velho, tinha só 48 anos.
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