Pelos olhos adentro
Por conta de uma unha encravada tenho-me passeado de táxi para lá e para cá mais vezes do que o orçamento familiar consideraria desejável. Enfim. Isso até seria suportável se os nossos táxis não fossem o que são. É que já não bastava a antipatia quase geral dos senhores taxistas. Não bastava o cheiro a podre que têm alguns dos carros. Que às vezes se transforma num enjoativo cheiro a rosas e mel e menta e tudo e tudo por causa daqueles perfumes especiais de corrida. Já não bastava termos que aturar os jogos de futebol e o jogo da mala e os discos pedidos em altos berros. Já não bastava que, ao mesmo tempo, tivessemos que gramar também com os pedidos de um carro para a rua do salitre, número 14, espera a dona cláudia, móvel 57 é o número 14, retális. Já não bastava essa moda nova que é o GPS, parece que agora toda a gente tem, e uma voz enervante que nos manda daqui-a-50-metros-virar-à esquerda-agora-virar-à esquerda-agora. Para além disto tudo ainda temos - tchan tchan! - a fabulosa taxi-tv. Era mesmo o que nos faltava. Uma pessoa entra no táxi e leva com aquilo na tromba que não tem escapatória. O ecrã mesmo ali pespegado no banco da frente. E com uma programação de luxo, sim, senhora. Pois tem o trailler do High School Musical. Pois tem propostas de férias para a malta ir à Grécia e à Austrália. Pois tem curiosidades tão curiosas como os nomes dos primeiros-ministros portugueses desde o 25 de Abril. E por aí adiante. E se a viagem demora mais de dez minutos arriscamo-nos a ver tudo repetido. Por mais que uma pessoa tente olhar pela janela, distrair-se com a rua, entreter-se com qualquer coisa, a verdade é que é quase impossível tirar os olhos daquilo. É assim tipo toma lá e engole. E porquê? Porquê? Havia alguma necessidade? Ah, mas experimentem dizer isso ao senhor taxista todo contente com o seu gadget novo, experimentem lá, experimentam só dizer olhe, se faz favor, importava-se de desligar esta coisa que já me está a dar tonturas, ora experimentem que é para ver como é. É que além da música, da retális, do GPS e da televisão ainda tive de levar com uma explicação que demorou toda a viagem, toda, sem sequer me dar hipótese para dizer deixe lá isso, não precisa desligar a televisão e ficamos amigos como dantes. Está decidido: amanhã volto ao meu querido metro.
Labels: vidinha
4 Comments:
ola!
realmente nao ha nada melhor que o metro. ao menos nao somos obrigados aturar condutores doidos com os seus traumas.
embora as vezes acontecem coisas muito estranahs dentro do metro.
beijinhos e bom dia
Eu acho que deveríamos recusar-nos a andar nesses táxis. A mim nunca me calhou nenhum, mas acho que recusava (depende da pressa).
Quem nao gosta, anda a pé.
Ainda ontem me insuia lá no Rochedo, por casa de uma cena vivida num táxi hoje apanho com mais esta? E ainda por cima somos obrigads a pagar?
Post a Comment
<< Home