Tuesday, September 30, 2008

Do casamento e outros demonios

Anda praí um rebuliço nos blogues-amigos por causa do casamento, entre pessoas do mesmo sexo ou de sexo diferente, mas afinal é igual ou não a uma união de facto, e que é por causa dos filhos e das heranças e das visitas no hospital (?) e do IRS e mais não sei o quê e eu pus-me praqui a pensar: mas afinal por que raio casam as pessoas?
Vejamos. Eu casei-me. Não foi por causa do sexo pois que já o tinha antes do sim. Não foi por causa da casa que também já partilhávamos, como tudo o resto, da televisão ao frigorífico, dos tapetes aos pacotes de leite. Não foi por causa dos benefícios fiscais, que eu nem sabia que existiam e ainda hoje não sei, parece que sim, que é mais fácil comprarmos uma casa juntos e os impostos e os seguros e essas coisas, mas não era nisso que eu pensava enquanto lhe punha a aliança no dedo. Não foi por causa das heranças (ah, ah, ah, era bom que fosse, era), mas, pelo sim pelo não, que isto nunca se sabe, até pode sair-nos o euromilhões, casámos no regime geral, com comunhão de adquiridos (voltarei a este assunto daqui a umas linhas). Não foi por causa dos filhos pois felizmente hoje em dia já existem maneiras de proteger os filhos nas separações e de lhes garantir que vão continuar a ter dois pais, aconteça o que acontecer.
Foi porquê, então? Ah, o amor. Pois é. O amor e essa coisa do para sempre, de termos um projecto de vida em conjunto, de querermos construir uma família, de querermos assumir um compromisso, para nós e perante os outros, pois claro, é assim tão difícil reconhecer que grande parte das coisas que fazemos na nossa vida têm um significado diferente quando são vividas em comunidade, que os rituais são isso mesmo, que essas vivências partilhadas ajudam-nos a construir um sentido? (atenção: não estou a falar de aparências, estou a falar de vivências e significados) Gritamos ao mundo que somos um casal e segredamos entre nós que somos um para o outro. A partir de agora, para que fique claro, o que é meu é teu e o que é teu é meu (aqui está a comunhão de adquiridos), quer seja uma almofada ou as jóias herdadas da avó. Porque a partir de agora nós somos um. A minha família é tua. A tua família é minha. E acreditamos e desejamos que assim seja por muito, muito tempo. Queremos envelhecer de mão dada. Queremos essas lamechices todas e mais as discussões e as desilusões e as rotinas que vêm por acréscimo.
E para isso é necessário casar? Para uns sim, para outros não. Para mim foi importante. É importante. Ouso dizer: mesmo que, em termos de direitos e deveres, união de facto e casamento fossem exactamente iguais, ainda assim, eu casaria. Há quem diga que um papel não muda nada. Eu não concordo, mas na boa, quem quiser casar casa quem não quiser não casa, não é?, não vamos obrigar ninguém. Quem quiser unir-se de facto pois que se una. Quem não quiser nada disto também é boa pessoa.
Ora é aqui que entra a outra questão. Há pessoas que querem casar e não podem. Há pessoas para quem isto é importante. E não o podem fazer. É justo?

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12 Comments:

Blogger Raquel A. said...

Concordo com cada palavrinha que escreveste.. Posso dizer que vivo em união de facto com o meu namorado e que para mim é muito importante esse papelito mas para ele, não é.. Vamos ver onde isto nos vai levar...

*BJS*

11:08 PM  
Blogger SMS said...

Não é justo. Por isso: flash Mobs. A primeira é já no dia 2, às 19.30, em frente à Brasileira. Sigam o cocó (coconafralda.blogspot.com) e venham lá ajudar pessoas que só querem ter o mesmo direito que as outras, porra!
Boas dicas, gata. É isso aí!

1:11 AM  
Blogger JPN said...

gostei de cada palavrinha que escreveste, mesmo daquelas que arrastam ideias que não me dizem muito
:)

5:32 AM  
Blogger Inês said...

Escreveste exactamente aquilo que penso sobre este assunto.
Os rituais são necessários. E são tão mais importantes quando existem filhos. São uma forma bonita de lhes explicar as coisas simples da vida. E de lhes facilitar a integração no mundo lá fora.

9:53 AM  
Blogger me said...

Justo não é! Cada um é o que é e deve fazer da sua vida o que entender! E não deveria ser uma lei a impedir isso!

Convivo perfeitamente com as opções de cada um, até porque se aqui falamos de sexo, mais complicado é conviver com as opções religiosas e políticas de outros!

Mas também não acho justo que venham reclamar direitos que não me parece que tenham! O de ter filhos! O de adoptar! Não me parece que duas pessoas do mesmo sexo consigam, juntas, fazer um filho! Não acho justo que reclamem um direito, que fisicamente não o têm ou não o asseguram!

Desculpa, é a minha opinião!

11:42 AM  
Blogger Cristina Silva said...

Não, não é justo! TODOS que desejem casar devem ter o direito de o fazer.
Já fui casada e neste momento vivo em união de facto. Mas vamos casar porque é algo que queremos fazer e queremos partilhar a nossa felicidade com os amigos e família. Temos um filho de 10 meses e o meu filho de 11 anos do meu 1º casamento vai concretizar o seu sonho de levar a mãe ao altar.
Penso que os casais homossexuais devem poder adoptar crianças, desde que tenham condições para isso , tal como os casais hetero.
Existe tanta gente com o "direito" físico de ter filhos e que depois comete verdadeiras atrocidades com os filhos...
Esta é questão complexa, e como tal fico por aqui.
Casamento para quem queira!!!

1:35 PM  
Blogger nat said...

Caramba. Que bem escrito. Que bem escrito mesmo.

1:36 PM  
Anonymous Anonymous said...

límpida e eloquente, como sempre. claro que não é justo! a questão é: o que é que cada um de nós pode fazer para o mudar? a sugestão da SMS é uma hipótese ;))

3:01 PM  
Blogger eMe-a-eMe said...

olá.
nem podiamos esperar outra coisa num país onde há quem ache que a lei do divórcio vem ameaçar a estabilidade familiar.
as lógicas são estranhas e as mentalidades então...

7:52 PM  
Anonymous Anonymous said...

Parabéns pelo blog, pela escrita maravilhosa e por essa cabeça bem organizada! Mesmo estranhos os anónimos apreciante MUITO!

8:25 PM  
Blogger Ana said...

ADOREI o post, escreveste o que penso, aliás estou a considerar rapatar umas partes e dar os devidos louros à autora. Brilhante!

12:47 PM  
Anonymous Anonymous said...

Concordo plenamente c/ o post, e fica aqui uma questão p/ a mamie2, um casal heterosexual q juntos não consegue ter filhos,(pq 1 não tem espermatesoides ou ela não tem ovários etc...), È justo q reclamem um direito, q fisicamente não têm ou não o asseguram?

12:31 AM  

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