Monday, June 30, 2008

Lembrete

Uma semana depois de eu ter o meu primeiro filho comecei a ouvir os conselhos de algumas amigas experientes. Tens de voltar à tua vida normal, diziam-me. Sai de casa. Leva o puto às compras, vai passear com ele. Ou deixa-o com a avó, não te podes deixar prender. Tens que fazer ginástica. Tens que tirar leite. Ou dá-lhe biberão. Tens que o ensinar a dormir a noite inteira. Tens que o deixar chorar. Não podes andar sempre com ele ao colo. Tens que tratar de ti. Tens que aproveitar que estás de licença. Tens que reagir. Não podes deixar de viver, vai ao cinema, vai beber um copo, vai à praia, vai jantar fora, vai namorar. Vida normal? Ora eu que estava que não podia com dores, não me conseguia sentar nem andar direita, eu que até medo tinha de ir à casa de banho não fosse isto ficar definitivamente estragado, eu que tinha as hormonas aos saltos e só pensava que nada iria correr bem e que nunca mas nunca iria conseguir descer as escadas do prédio com o carrinho ou conduzir com o bebé a chorar ao meu lado, eu que passava a noite de luz acesa para poder ver o puto a cada cinco minutos, eu que não dormia mais do que uma hora seguida, eu que nunca tinha visto um recém-nascido nem sequer pegado num bebé, nunca tinha trocado uma fralda e não tinha sobrinhos ou primos pequenos que me dessem nem que fosse uma ideia do que seria tratar de uma criança, eu que começava a duvidar que fosse capaz de cuidar decentemente do meu próprio filho, eu que devo ter sido a única mulher no mundo que telefonou à sogra a implorar ajuda (nada contra a minha sogra, é uma querida, adoro-a, mas estão a ver o grau de desespero, né?), eu olhava para estas minhas amigas, mães experientes e desembaraçadas, e só me apetecia perguntar mas qual vida normal? e enfiar-me num buraco onde ninguém me encontrasse.
Seria eu a pior mãe do mundo?
Felizmente os dias passaram. As semanas passaram. Os meses passaram. E as coisas foram lentamente entrando nos eixos. Naturalmente. Ao meu ritmo. Não cheguei a ir à ginástica e ainda demorei um pouco até conseguir conduzir com o bebé ao meu lado. Nunca tirei leite e por isso só lá para os quatro meses é que conseguimos, por fim, ir jantar fora e deixar o bebé com a avó. A parte do namoro também levou o seu tempo. Mas, quem diria?, conseguimos sobreviver e, às vezes, dependendo dos dias, até parecia que conseguiamos viver. Agradeço por isso a todas as minhas outras amigas que nas visitas e nos telefonemas de parabéns me deram um único conselho: leva o teu tempo (e se precisares de alguma coisa, diz).
Agora que já sou mãe de segunda viagem (não tem nada a ver, é mesmo muito mas muito mais fácil) espero não me esquecer desta lição. Se eu alguma vez me armar em sabichona-conselheira-moralista-armada aos cucos com alguma outra mãe recente vocês por favor dêem-me um par de estalos e mandem-me vir ler este post. É para isso que ele aqui está.

PS - parabéns, Rititi

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1 Comments:

Blogger SMS said...

Eu gostava de ter sido das que disse que tudo havia de ir ao sítio a seu tempo. Mas... não me lembro!!! Terei sido das sabichonas? Se fui (como sei que fui com outras porque me lembro) desculpa!!! É coisa que odeio que me façam. E como quando tu tiveste o teu primeiro eu já tinha tido o meu (e também já tinha percebido o quão detestáveis são esses conselhos) que tenho esperança de me ter remetido ao sábio silêncio. Beijoooooooos

11:56 PM  

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