Sininho de Natal
Estava tudo combinado. No dia da amniocintese, o meu homem não foi trabalhar para me poder acompanhar ao hospital e depois ficar em casa a dar-me miminhos. E,para evitar esforços e contratempos, o puto ia ficar em casa dos avós. Estava tudo combinado menos a festa de natal. Pela primeira vez, o nosso rebento ia subir ao palco. Ainda fiz a conversa à médica, à espera de uma aprovação, mas ela nem pestanejou. O pai que leve a câmara de filmar, propôs. Assim, enquanto a família aplaudia, entusiasmada, eu fiquei deitada, no meu quarto com vista para o estádio da luz. Parece que o miúdo estava super-contente com o seu fato de sino e que passou mais tempo a acenar para a plateia do que a cantar a música de natal. Um sucesso, portanto. Quando lhe liguei, depois do jantar, para dar boa-noite, contou-me tudo. Sabes como foi? Eu tinha uma roupa feita com um saco de plástico e era um sininho, e o pai e a avó e o avô foram me ver. As palavras atingiram-me com uma violência que eu não esperava. Prometi para mim mesma: não vou deixar que isto volte a acontecer, não vou deixar que isto volte a acontecer. E, no entanto, poderei eu garantir que vou estar sempre lá, nas festas, nos jogos, nas primeiras vezes, nas vezes que forem importantes?
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